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Comprar Casa: Prazo Curto versus Prazo Longo

20 Mai 2010

No meu artigo sobre comprar casa a quanto tempo tentei defender a minha ideia que é mais benéfico usufruir do máximo de tempo possível. Pode parecer estranho, mas apesar de ser contra os créditos, na compra de casa prefiro créditos com o maior prazo possível. No outro artigo houve alguns comentários interessantes mas penso que ficou tudo pouco esclarecido. Vai daí e tentei fazer uma simulação mais completa com base nos dados de uma das pessoas que comentou. Para este exercício vamos supor que temos 2 rapazes de 30 anos a querer comprar casa: o Paulo Curto e o Paulo Longo. Ambos têm um plafound de 500€ por mês para a casa durante 50 anos. Nesta simulação não há variaveis externas como inflacção, euribor, taxas de juros variadas, descontos de IRS, etc.

Ambos vão comprar uma casa cujo valor original é 100k (k = milhares, ou seja 100k = 100 000). Mas um vai comprar a 25 anos e o outro a 50 anos. A ideia é ver qual das opções é a melhor para as finanças de cada um. Aqui estão os dados iniciais da simulação:

Sujeito Valor Inicial Prestação Anos Valor Total
Paulo Curto 100k 500 25 500*12*25 = 150k
Paulo Longo 100k 350 50 350*12*50 = 210k

Os 500€ mensais, só podem ser usados para a casa ou para poupança. Nesta simulação o Paulo Curto vai pagar menos 60k que o Paulo Longo. Entretanto o Paulo Longo vai armazenando 150€ por mês durante os 50 anos. Enquanto que o Paulo Curto não armazena nada durante 25 anos mas depois armazena os completos 500€ por mês. Se o Paulo Longo armazenar religiosamente os 150€ por mês, chega ao final dos 50 anos com 12*150€*50 =90k. Fazendo com que o seu saldo efectivo no final do prazo seja -210k+90k = -120k. Pode parecer um bom negócio em relação ao Paulo Curto, mas não podemos esquecer que o Paulo Curto fez um esforço de investimento para retirar dividendos mais tarde, e isso tem de ser contemplado.

De seguida está uma tabela que mostra em prazos de 5 anos o custo da casa relacionado com a poupança:

Período

(Anos)

Paulo Curto Paulo Longo
Encargo Casa Poupança Poupança Acumulada Encargo Casa Poupança Poupança Acumulada
0-5 30000 0 0 21000 9000 9000
5-10 30000 0 0 21000 9000 18000
10-15 30000 0 0 21000 9000 27000
15-20 30000 0 0 21000 9000 36000
20-25 30000 0 0 21000 9000 45000
25-30 0 30000 30000 21000 9000 54000
30-35 0 30000 60000 21000 9000 63000
35-40 0 30000 90000 21000 9000 72000
40-45 0 30000 120000 21000 9000 81000
45-50 0 30000 150000 21000 9000 90000
150000 150000 210000 90000

Esta tabela tem vários dados interessantes. O Paulo Curto passa os primeiros 25 anos a pagar a casa por completo, enquanto que o Paulo Longo vai amealhando. Após pagar a casa, a velocidade a que o Paulo Curto poupa é muito maior que a do Paulo Longo. É interessante ver que ambos chegam à mesma riqueza ao ano 35. Tendo em conta a idade inicial de 30 anos, sinifica que aos 65 anos quando ambos vão para a reforma, ambos têm à volta de 60k na poupança. A partir daí o Paulo Curto enriquece muito mais rapidamente e chega aos 80 anos com 150k, contra os 90k do Paulo Longo. A diferença são os 60k do valor total da casa que vimos anteriormente.

Com estes dados todos já conseguimos algum contexto importante. O Paulo Curto têm de se esforçar mais durante os primeiros 25 anos para que somente aos 55 anos consiga ter mais dinheiro disponível mensalmente, sendo que ainda precisa de mais uma década para apanhar a riqueza do Paulo Longo. Por outro lado o Paulo Longo teve sempre mais dinheiro do seu lado, que poderia investir ou usar quando precisasse. Somente aos 65 anos é ultrapassado pelo Paulo Curto, altura em que os 60k já lhe dão para uma reforma sem problemas e com muitas viagens.

Isto mostra bem a minha preferência em ter sempre a maior parte do dinheiro do meu lado, por oposição em dá-lo ao banco. No final de contas é tudo uma questão de preferências, mas penso que desta forma o meu caso está melhor defendido e assim se pode ver que ambas as abordatens têm vantagens e desvantagens.

Algo que também gostaria de incorporar aqui era o efeito das amortizações. Valem a pena? Certo que valem a pena num contexto de despachar a casa, mas no contexto de ter o máximo de dinheiro na nossa conta, é discutível. Outro pormenor interessante é que o Paulo Curto iria tentar dar o máximo possível de entrada, enquanto que o Paulo Longo iria tentar dar o mínimo.

Por fim, és um Paulo Curto ou um Paulo Longo?

 

Finanças

 
Etiqueta(s):investimentospoupanca

Comentários

  • PAC
    Se no inicio da conta ambos têm 30 anos e se ambos tem apenas rendimentos de trabalho dependente e se reformam ao 65 anos então na tabela de relação encargos/poupanças a partir do perido 35-40 deixa de haver poupança, tanto para o PC como para o PL ficando o PC com 60k de poupança e o PL com 63k. A grande diferença é que ao PL ainda lhe faltam pagar 63k do emprestimo que na falta do rendimento terá da gastar tudo aquilo que guardou na poupança, ficando apenas com os eventuais juros dessa poupança.
  • Arzebiuzado
    Estás a assumir que após a idade de reforma já não iam ter o rendimento de 500€ mês? Esta simulação presume que eles têm sempre os 500€ vindos não sei de onde, seja do empregador, seja da reforma da seg social. Mas é um ponto muito interessante, principalmente à escala de anos do exemplo. Mais uma variável nesta equação que mostra como estas coisas não são triviais. EDIT: e ao colocar essa variável externa à simulação, não te esqueças que em 30 anos a inflacção faz com que a prestação tenha um peso muito menor no orçamento mensal, e que provavelmente a reforma iria cubrir isso. É por exemplo o caso dos meus pais que hoje pagavam 150€ de renda, quando no início era um ordenado inteiro para a renda
  • JC
    O exemplo é interessante. mas como disseste, não contempla as variáveis externas, que fazem a diferença. Relativamente à inflacção, então a 30 anos a inflacção também transforma as poupanças irrisórias. no outro dia uma colega minha contou-me uma história interessante de um taxista. basicamente o objectivo dele era dar o litro enquanto jovem para aos 40 anos não ter chatices e fazer o que lhe apetecer. foi o que fez, e a partir dos 40 anos já só trabalha para um objectivo diário de rendimento. quando atinge o objectivo vai fazer o que gosta. tanto pode estar despachado às 18h como às 11h da manhã. e esse também é um ponto importante. se demorares a vida toda a pagar a casa, convém que durante a vida toda n tenhas problemas com emprego e rendimentos. se despachares a casa ASAP, e conseguires poupar algum, quando acabares de pagar a casa, estás orientado. já não estás dependente de ninguém. e não tens dívidas a ng.