Nós somos um animal que gosta de competir. Competimos em tudo o que podemos e detestamos perder. Isso significa que se formos parte de uma equipa que colabora com outras equipas para um objetivo comum, haverá competição na mesma. Haverá política e dedos apontados. Ninguém quer ficar por baixo e todos querem ficar por cima. Porque ficar por cima pode significar uma promoção ou louvores dos chefes.
Quem sofre com isto tudo é a raia miúda, que não tira dividendos do sucesso, mas que leva nas orelhas quando é preciso. A certa altura da minha vida estava eu numa empresa grande de telecomunicações a trabalhar. Estava a fazer um produto, praticamente sozinho. Mas com uma manager. Ela tinha a função de gerir requisitos, planear as coisas e tratar mails. Era a chamada outlook engineer. Havia depois, dentro da mesma empresa, outro departamento comercial que atuava como o cliente.
Mas não me era permitido falar com o cliente. Tinha de ser a minha manager. Ela esforçava-se por ser só ela a cara do projeto. Aconteceu inclusive ela estar ao telefone com o cliente, a fazer-me perguntas e a responder de volta. Era complicado passar-me a chamada. Eu achei a situação patética mas continuei a fazer aquilo para que me pagavam. Mais tarde, entrou a equipa de testes ao barulho. Eram porreiros eles. Um dia andava eu a receber os problemas por mail e perguntei:
Então? Porque não registas o problema no sistema?E ele:
Ah, é que se registarmos problemas e forem rejeitados , as métricas do departamento descem e somos penalizados.E eu, que sou um tipo porreiro, e com foco na produtividade:
Não te preocupes meu! Regista lá isso que eu não vos complico a vida!E assim seguimos. Começámos a ser mais produtivos assim que estas coisas burocráticas saíram do caminho. Certo dia chega a tal manager e eu explico-lhe que estava a facilitar para eles ficavam à vontade. E ela explica-me que como eu estava a fazer, era o departamento dela que ficava mal porque tinha muitas coisas a serem abertas. Nhac. Estava eu e o outro colega concentrados em avançar com o projeto, e os nossos managers concentrados no jogo da corda. Uns anos mais tarde, já com outras pessoas, noutro projeto com várias equipas dei por mim numa situação semelhante. Já passava da hora de expediente e várias equipas encontravam-se a corrigir uma aplicação instalada. A certa altura havia um problema e estávamos concentrados em resolvê-lo, quando eu noto o que é e digo ao meu manager que se fizer uma correção consigo corrigir. Que era a outra equipa que tinha feito uma coisa mal, mas que eu podia despachar isto e corrigir. Resposta dele:
Não faças nada. Não queremos que depois digam que a culpa foi nossa, que o nosso componente só passou a funcionar quando o corrigimos.Enfim. Cada macaco no seu galho. E o meu galho na altura era o das horas extra, mais uma vez devido ao jogo das culpas.