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Responsabilidade dos Chefes

12 Mai 2010

Eu sempre refilei mais do que devia com os meus superiores. Por vezes quando as situações são injustas facilmente perco a calma e respondo de forma mais agreste. Agreste mas honesta, e muitas vezes sem o contexto todo. Mas outras vezes com razão. Hoje em dia continuo com a mesma personalidade mas consigo transmitir as minhas discóridas de forma muito mais.. digamos: educada.

Ironicamente penso que esta minha forma de actuar me faz ganhar pontos com os chefes. Pelo menos com os competentes, que gostam de alguém que é honesto e diz o que é preciso dizer, e que não anda a lamber botas. Os menos competentes ficam mais sem jeito e não lidam tão bem com esta gestão de conflitos. Acho que nem com formação lá vão.

Quando eu estou num projecto há sempre um chefe que o dirige. No nosso ramo chamamos a estes chefes de managers. Eles têm a responsabilidade de tudo o que toca ao projecto, seja gestão de recursos, tarefas e até mesmo financeiro. Quando algo corre mal, a responsabilidade é deles e são eles que dão a cara, mesmo que a culpa seja do colaborador A ou B.

Pela minha experiência esta gestão de responsabilidades é o mais complexo no cargo de um manager. Se o cliente pede à última da hora uma nova funcionalidade, num curto prazo de tempo, ele tem duas opções:

  • Pede aos colaboradores horas extra

    • No meu ramo é raro pagarem estas horas, umas vezes porque não há budget, outras porque não se quer

  • Tenta renegociar com o cliente

A pedir horas extra é muito importante a relação com a equipa. Já tive managers que me pediram horas extra e eu não consegui dizer que não. Há outros que levam logo um não com todas as letras. Eu também estou escaldado nestas coisas: já me aconteceu fazer horas extra que foram cobradas ao cliente e não me chegou nada. Os chefes podem pedir motivação e trabalho extra como forma de mostrar que se gosta da camisola. Mas isso para mim é tudo uma treta: eu recebo para trabalhar 8 horas, não mais. O acto de trabalhar horas extra é sempre algo a que me reservo  o direito de aceitar ou não. Há empresas em que gosto de trabalhar mais, porque me sinto bem com isso. Outras nem pensar. Não se esqueçam que os chefes e os chefes dos chefes muitas vezes ganham super bem e não quero ou vou estar a trabalhar a mais para eles depois terem um carro novo.

Para mim, a pior coisa que um chefe pode fazer é descartar-se das suas responsabilidades delegando-as para a sua equipa. Exemplo: foi pedido algo para amanhã. Em vez do chefe tentar negociar isso, impõe horas extra à equipa e não paga mais por isso. Ora, o chefe disse que sim, e entregou a horas, e ficou bem visto. Mas à custa dos outros. E para mim, para uma equipa trabalhar bem, quando há problemas (e há-os sempre), é preciso dividir o mal pelas aldeias. Todas!

 

Trabalho

 

Comentários

  • cindy
    Eu sou arquitecta e infelizmente há a ideia pré-cpncebida no sector que nós arquitectos adoramos fazer noitadas e a inspiração nos surge a altas horas da noite. Pelo menos no que diz respeito à minha pessoa, posso dizer que dispenso horas extra - que também nunca são pagas. Graças a esta ideia pré-concebida fui durante anos bombardeada com ultimatos para trabalhar em fins de semana por exemplo. E foram mais as vezes em que recusei do que aquelas em que cedi. Porque cheguei à conclusão que quem lucrava com isso eram os patrões. Não pagavam as horas extra, embora nos dissessem que podiamos depois usufruir delas em qualquer altura. Claro que quando pediamos folga eramos olhados de lado. E chegou ao cúmulo de uma vez estar a trabalhar e o patrão ao lado a jogar cartas no pc. A partir daí recusei-me e quando me perguntaram o porquê, fui franca e denunciei-o. Deu resultado. xoxo cindy
  • Arzebiuzado
    Pois, pelo que sei vocês arquitectos também sofrem muito. Tenho uma amiga arquiteca que trabalhava numa empresa onde havia 1 chefe e N estagiários, que tavam sempre a rodar. Bela exploração.
  • José Maluco
    Eu sou manager, mas preferia ser programador. Infelizmente gosto de ganhar dinheiro para meter debaixo do colchão e para isso tive de progredir na carreira para estas funções. Em relação a mandar os pretos programar fora de horas, por mim estou-me cagando, desde que eu possa ir para casa... Até me vou embora a rir dos palhaços... Infelizmente isso não costuma ser possível, e portanto tenho que ficar a fazer figura de corpo presente para não perceberem que me estou a cagar para eles. Tudo não passa de um jogo... Eu estou-me a cagar para eles, mas tenho que fingir que gosto muito deles para que trabalhem de borla fins-de-semana e ainda se sintam honrados: fizeram parte de uma equipa vencedora. Tótós, mas vencedores... Tenho que fingir que reconheço a merda do trabalho que fazem senão eles vão-se embora e fico agarrado. Acima de tudo penso que na sua maioria e salvo raras excepções os programadores que tenho são uma bela merda quando comparados comigo... O pior caso que tive foi um que para além de ser uma merda ainda cheirava mal... Será que tomava banho na lama do rio? Depois já sei que metade deles nunca vão progredir na carreira porque não passam de uns marretas, mas tenho que lhes dizer que tem muito potencial, até eles perceberem que os anos passam e a progressão fica sempre para o ano que vem... Vão-se embora ó merdas que eu depois vou às universidades e apanho putos melhores, inocentes e que acham que a vida é bela a programar...
  • Arzebiuzado
    Cómico. :)
  • JC
    Olá. Concordo plenamente contigo, se bem que em algumas funções, como a minha, é difícil não trabalhar fora de horas. isto porque há muitas intervenções que não se podem fazer em horário laboral, por motivos de disponibilidade dos serviços. de qualquer forma, penso que seria justo pagarem as horas extra. ou pagarem com horas de folga. e.g. depois de 8h de trabalho extra poder por um dia de férias sem que este seja descontado. mas é uma realidade o que a Cindy disse. se saímos mais cedo perguntam-nos se vamos tirar a tarde. e muitas vezes se saímos a horas as pessoas olham de lado pra nós como se isso fosse uma coisa totalemente anormal... mas a culpa disso é nossa por na maioria dos casos facilitarmos estas situações e depois tornarem-se "regra".. relativamente ao post do José Maluco, apesar da linguagem menos "polite" é um bom exemplo do mau que há em algumas empresas. felizmente não sofro deste mal pois o meu Manager é 6 estrelas! :)
  • Cindy
    Felizmente, no gabinete onde trabalho hoje raramente há necessidade de fazer serão. E porquê? Porque sou eu que estou à frente da equipa e consigo gerir a coisa de modo a que o trabalhos eja sempre feito dentro do horário laboral.