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As amortizações valem a pena?

24 Mai 2010

No final do meu artigo que compara prazos de compra de casa, disse que era bom falar das amortizações mas que não tinha muito contexto sobre o assunto. Em dicussão com os meus amigos consegui algum contexto extra e portanto decidi trazer este assunto das casas novamente a discussão. Em primeiro lugar, em relação ao ter o máximo de dinheiro do nosso lado, houve um amigo que me perguntou:

Mas para que é que tu queres tanto dinheiro do teu lado? Se for possível ir pagando e ainda teres pé de meia de segurança, porque não?

Na altura não soube responder. Mas depois pensei melhor nos objectivos de todas estas contas. O objectivo principal de toda a gente é ter o mínimo de custos possível. As pessoas querem despachar a compra de casa para terem mais dinheiro para si. A questão que levanto é se isso vale a pena, pois ao dar dinheiro ao banco em troca por mensalidades mais baixas, convém sabermos quanto tempo vamos demorar a recuperar essa riqueza, e se vale a pena.

As amortizações vêm de encontro a este assunto. Enquanto discutia com um amigo surgiu um exemplo deveras interessante. Imaginemos uma pessoa que está a comprar casa a 20 anos, com uma mensalidade de 400€, e ao ano 10 tem poupanças de 50k. E se ela der os 50k, fica com a casa paga. Valerá a pena? À primeira vista vale, mas vamos fazer umas continhas.

A primeira coisa a saber é quanto tempo é que essa pessoa vai demorar a recuperar os 50k. É que é um risco pesado, 50k dá para nos sustentar muito tempo se ficarmos sem emprego ou outra situação complicada. Ao amortizar tudo ele fica agora com 400€ por mês a mais. Quanto tempo demora a recuperar os 50k? Será então 50k /400 /12 =10.4 anos. Ou seja, libertou os 50k ao ano 10 para chegar ao ano 20 com a mesma poupança se não tivesse amortizado.

Mas há ainda mais vantagens em ter os 50k do nosso lado, nomeadamente:

  • 50k a uma taxa de 2% dá ~1000€ anuais. Ou seja, ele pode ganhar mais de 1000€ por ano só de ter um depósito com os 50k, o que faz com que ao final dos 10 anos tivesse bem mais de 10k euros só em juros
  • Há também a questão do IRS: é possível descontar no IRS os juros pagos no crédito à habitação. Não querendo entrar em detalhes, imaginemos que ele conseguia reaver via IRS 300€ por ano devido às suas prestações. Era mais 3k no final do periodo. Nota que se ele amortizasse os 50k não iria ter o retorno equiparável devido aos limites anuais

Cada caso é um caso, e o mais que podemos fazer é as continhas todas, sabendo que isto não é algo tão trivial como possa parecer.

 

Finanças

 
Etiqueta(s):amortizacoes

Comentários

  • PAC
    Sempre que leio aqui sobre emprestimos vejo algumas referências a "o dinheiro do nosso lado" e a "dar dinheiro ao banco". Acho que não estás a fazer bem a distinção entre passivo e capital. Quando tens um credio e pagas-o ao banco não estas a dar guito ao banco, estas a deixar de dar guito ao banco: o capital é o mesmo mas quando mais tempo o capital passivo estiver do teu lado mais guito dás ao banco (juros). É este o modelo de negocio dos bancos. Já quando referes que ter 50K do teu lado, porque ainda não os pagaste ao banco, tens sempre de ver isso como um passivo adiado. E se por um lado podes por esses 50K (capital do banco que ainda não devolveste) a render numa conta, para o banco tanto melhor, porque a conta de crédito que ainda te falta pagar tambem está a render juros mas a favor do banco. Repara bem no que estas a sugerir: Pedir guito ao banco para depois o por a render!, não funciona, estarias a fazer concorência directa aos bancos e os bancos gerem guito melhor que ninguem. Em relação ao IRS, se por um lado podes deduzir parte dos juros que pagas ao banco no valor que te foi retido para IRS, por outro lado as mais valias de depositos a prazo tambem são tributadas, logo, mesmo que um banco te desse uma taxa de juros pelo teu deposito a prazo igual àquela que te cobra pelo crédito (não acontece), e usasses esse credito para o pores a render (!), podias deduzir os juros que pagas no valor retido para IRS, mas terias de declarar o rendimento dos juros que recebeste.
  • Arzebiuzado
    Tens razão em tudo o que dizes, mas eu não vejo o crédito habitação como um crédito normal. Nem sugiro que se façam créditos só para depois ter o $$ do nosso lado. A questão é que o crédito habitação é algo que nos acompanha grande parte das nossas vidas e algo a que não conseguimos fugir. As minhas questões são somente para tentar tirar o máximo de frutos possível dessa situação. Quando eu digo que prefiro ter o $$ do meu lado, o objectivo principal não é poupanças, investimentos ou afins, é segurança. Tal como dizes, não faz sentido estar a comparar o que se ganha com um depósito com o que se paga de crédito. Mas com o dinheiro do meu lado eu sei que se perder o emprego ou tiver algum problema de saúde, podia usar os 50K durante alguns anos para pagar a casa, pagar a creche, alimentação para a familia, etc. Todos os meus outros argumentos são só para ajudar a causa. :) Por isso ponho por aqui estas questões: vale mais pane ter 50k no banco e pagar 400€ por mês, ou não ter nada no banco e ter mais 400€ por mês?
  • PAC
    Ok, vou reformular a tua questão para ver se me explico melhor: "Mais vale a pena ter 50K na conta mais 50K a dever ao banco ou nao dever nada ao banco?". Insisto nisto porque vejo que tu fazes conta com o guito que ainda não pagaste ao banco, mas VAIS ter de o pagar. Se perderes o emprego e não deveres nada ao banco, tanto melhor, não deves nada a ninguem. Mas se tiveres a fazer conta com os 50K que não são teus, e ficares sem emprego, isso só te ajuda se tiveres a fazer conta em não pagares ao banco. A minha regra: So peço emprestimo quando teria de estragar um bom investimento para usar o meu proprio capital. No caso de um emprestimo à habitação, nem sequer tenho guito para a pagar a pronto. Portanto tenho de tentar chegar o mais proximo da minha regra (pedir o menos possivel com o menor juro possivel). Conselho: Paga a casa depressa, muito provavelmente ela não dura o tempo de um emprestimo longo. E faz guito vendendo-a. Ficas com as vantagens de uma casa arrendada (adapta-se às necessidades da vida) e de um investimento para a vida. Se não tiveres a casa paga, vende-la é sempre mais complicado. Ninguem consegue imaginar como a vida vai ser daqui a 30 anos. Se poder evitar compromissos para essa altura tanto melhor.
  • Arzebiuzado
    Compreendo o teu ponto de vista, e acho-o completamente válido. :) Repara que eu nunca me esqueço da divida ao banco, sei que ela existe, e assumo que vou ter sempre de pagar a sua prestação, algo que se vai tornando cada vez mais leve a cada pazada de anos. Mais importante que ambas as nossas abordagens acho qye é discutir isto e trazer estas coisas todas para cima da mesa. E infelizmente não há muita gente a pensar nestes pormenores todos.
  • PAC
    Gosto de ler estas considerações sobre financiamentos. Gostava de deixar aqui referência a um daqueles de livros do tipo "fique rico já". Embora ache piada a estes livros pelo facto de conseguirem vender muito sem dizerem nada, este disse-me qualquer coisa: http://en.wikipedia.org/wiki/Rich_Dad_Poor_Dad A razão pela qual acho que este livro me disse alguma coisa foi porque nós portugueses somos analfabetos no que diz respeito ao capital quando deixamos o ensino básico. De tal forma que um livro destes, com o nada que dizem, acaba por dizer muito a quem estudou nessa escolas.