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As Instituições de Crédito e os Traficantes de Droga

29 Out 2010

Um amigo contou-me agora que lhe ligaram do seu banco com a seguinte conversa:

Banco: Bom dia, bla bla bla, vimos por este meio apresentar uma promoção mirambolante! Hoje, pode depositar todo o plafound do seu cartão de crédito na sua conta à ordem, ficando logo com esse dinheiro todo disponível!

Ele: Obrigado, mas não estou interessado. Se eu precisar de comprar alguma coisa uso o cartão de crédito e depois pago... qual é a vantagem desse serviço?

Banco: Então, é que fica logo com o dinheiro todo disponível, para usar no que quiser!

Ele: Pois, mas fico com uma dívida enorme no cartão de crédito que depois tenho de pagar.

Banco: Também estamos a ver que paga o cartão a 100%, não preferia pagar antes a 50%? Assim conseguiria mais dinheiro!

Ele: Mas eu não preciso de dinheiro, tenho tudo controlado, obrigado.

Isto é basicamente o banco a entrar no mercado dos créditos rápidos. Num país onde tanta gente nem sabe o que é uma conta ordenado, estas ofertas podem parecer um achado a muita gente, sem que se apercebam do buraco em que se vão meter.

É engraçado que se pode fazer uma analogia ao mercado da droga. No outro dia estava a ver o The Wire e apercebi-me que os traficantes se limitam a trazer produto para um mercado necessitado. Se não forem eles, são outros. Acontece que pelas mais diversas razões, os drogados ganham dependência dos produtos que os traficantes vendem. Nesta série há até uma personagem que vai para a escola estudar vendas e aplica todos os conceitos genéricos ao mercado da droga. E como é que eles conseguem a clientela? Com ofertas. Já na série há dias específicos onde eles estabelecem esquinas com give aways de produto. Assim que o bootstrap do cliente está feito, este cliente torna-se uma fonte de income periódico.

Se pegarmos no parágrafo anterior e fizermos umas substituições de termos de droga por termos bancários, temos exactamente o mesmo. Os bancos aliciam clientes com um produto diferente: dinheiro. Eles vendem dinheiro. Para fazer o bootstrap, oferecem este tipos de campanhas. Os clientes, sem se aperceber do que se vão meter, entram no esquema e começam a consumir crédito e dinheiro alheio. O problema é que chega a uma altura em que vão ter de o pagar, e vai-se gerar assim a dependência do crédito. Tal como os drogados vivem a sua vida em torno de arranjar dinheiro para a droga, as pessoas comuns dependentes do crédito vivem a sua vida a ter de pagar uma prestação mensal às instituições de crédito.

Eu suma, isto é tudo a mesma droga. A diferença é que uma delas é legal.

 
 
Etiqueta(s):creditosfavoritos